O dia em que provei o verdadeiro Japão
Minha primeira experiência com a culinária japonesa no Japão aconteceu bem antes de qualquer restaurante renomado. Ela começou durante o período em que morei, estudei e trabalhei no Japão, na minha primeira estadia no país. Meu primeiro lar foi em Ogura-dai, um bairro residencial afastado no interior de Chiba. Diferente da agitação de São Paulo, onde cresci, aquele lugar me apresentou um Japão silencioso, simples e profundamente autêntico.
Logo nos primeiros dias, fui impactado pela qualidade dos sabores no mais inesperado dos lugares: as lojas de conveniência. Foi ali que percebi que o capricho e a atenção aos ingredientes não estavam restritos aos restaurantes, mas faziam parte do dia a dia, acessíveis a todos. Cada bento, cada onigiri, trazia um cuidado que eu nunca havia experimentado antes.
Depois, vieram as descobertas nos pequenos shokudos e restaurantes especializados de Ogura-dai. Provei peixes grelhados e cozidos, confortáveis e perfeitos na simplicidade, e o melhor arroz que já havia comido até então. Foi ali também que experimentei, pela primeira vez, o verdadeiro sabor do wasabi, dos sashimis e de um sushi que, até aquele momento, eu só conhecia das páginas de livros na livraria Miyamoto, da minha família, no bairro da Liberdade.
Quando me mudei para Koto-ku, em Tokyo, o mergulho na gastronomia japonesa foi ainda mais profundo. Monjayaki, fukagawa-meshi, curries, katsus, ramen, udon, soba, e até tsukemen, que eu nunca havia me interessado antes, abriram portas para um Japão de sabores infinitos. Cada mordida era uma surpresa, e eu me sentia como o protagonista do mangá Kodoku no Gourmet (risos).
A riqueza das cozinhas regionais
As viagens pelo Japão ampliaram ainda mais meu entendimento sobre a culinária do país. Em Niigata, conheci o melhor arroz da minha vida, produzido com a água pura das montanhas. Em Fukuoka, os frutos do mar, os cozidos e a carne de porco me transportaram para as minhas raízes familiares em Kyushu. Cada cidade, cada região, trazia novos ingredientes e tradições, todas elas ressoando com uma parte de mim que eu nem sabia que existia.
Ao final do meu tempo no Japão, tudo que trouxe de bens materiais comigo foram algumas roupas e uma nota de 1000 ienes no bolso – para a ira do meu pai. Quando ele perguntou o que havia acontecido com o meu salário e as economias, respondi com convicção: ‘Investi tudo em viagens e sabores.’ E não me arrependi. Cada centavo e cada segundo foram vividos intensamente, em sabores que ainda me acompanham. Uma bagagem espiritual, de experiências e de aprendizados de valor inestimável e invisível aos olhares alheios.
A essência da gastronomia japonesa
O que aprendi com o Japão é que a comida não é apenas alimento; é uma forma de comunicação. Seja no arroz perfeitamente cozido de Niigata, no monjayaki simples de Koto-ku, ou no sashimi de um pequeno restaurante em Ogura-dai, cada prato carrega uma história. Ele fala de respeito aos ingredientes, de tradição e, acima de tudo, de hospitalidade – o coração do omotenashi.
Essas experiências continuam a me inspirar, seja na cozinha do restaurante, seja nos serviços que oferecemos no Omotebako. Cada prato que servimos, cada experiência que criamos, carrega esse mesmo cuidado e esse desejo de compartilhar um pouco do Japão com nossos clientes.
Um convite ao cuidado
“Provar o verdadeiro Japão é mais do que saborear sua comida. É mergulhar em sua cultura, suas tradições e sua forma de ver o mundo. Espero que, ao ler este post, você também se sinta inspirado a explorar esses sabores e descobrir o Japão em cada detalhe.”