O outono no Japão é uma das estações mais mágicas que já experimentei. Quando as folhas começam a mudar de cor, o país inteiro se transforma em uma paleta de tons quentes – do amarelo dourado ao vermelho profundo. Caminhar por um jardim japonês ou uma trilha na montanha durante essa época não é apenas um passeio; é uma experiência que conecta você à natureza de uma forma que só o Japão consegue proporcionar.

Essa estação também carrega um significado cultural profundo. No Japão, o koyo – o fenômeno das folhas vermelhas – é tão celebrado quanto o florescer das cerejeiras na primavera. Famílias, amigos e viajantes se reúnem para admirar a beleza efêmera das árvores tingidas pelo outono, uma tradição que reflete a relação do povo japonês com a impermanência e a mudança.

Destinos para apreciar o outono japonês

O outono no Japão é uma experiência que vai além das paisagens. Cada região oferece algo único, e algumas cidades e vilarejos brilham ainda mais durante essa estação. Aqui estão alguns dos meus destinos favoritos para vivenciar o koyo:

• Kyoto: Caminhar pelo Templo Tofukuji, com suas árvores de bordo em tons de vermelho e laranja, é como entrar em um quadro vivo. Os jardins do Templo Eikando e a Floresta de Arashiyama também são imperdíveis nessa época. À noite, muitos templos oferecem iluminações especiais que destacam ainda mais a beleza das folhas.
• Kawaguchi-ko: Com o Monte Fuji ao fundo, as árvores tingidas de vermelho e dourado ao redor do Lago Kawaguchi criam uma paisagem que parece saída de um sonho. É o lugar perfeito para uma pausa tranquila, longe da agitação das grandes cidades.
• Hakone: Além das folhas coloridas, Hakone oferece onsen (fontes termais) ao ar livre que se tornam ainda mais especiais no clima fresco do outono. As trilhas ao redor do Lago Ashi e o Parque Nacional Fuji-Hakone-Izu são ideais para quem busca natureza e serenidade.
• Nagano: Lar dos Alpes Japoneses, Nagano combina paisagens montanhosas espetaculares com uma culinária reconfortante, como soba fresco e maçãs colhidas localmente. Além da região pitoresca de Karuizawa, a área de Kamikochi é uma das mais impressionantes para o koyo.
• Gifu: A vila de Shirakawa-go, com suas casas tradicionais gassho-zukuri, é ainda mais encantadora no outono. A combinação das folhas vermelhas com a arquitetura histórica cria um cenário que parece congelado no tempo.

A comida do outono japonês

O outono no Japão também é uma celebração para o paladar. Durante essa estação, os mercados e restaurantes oferecem delícias sazonais como castanhas, cogumelos matsutake, batatas-doces e peixes gordurosos como o sanma (saury). Em Kyoto, tive a oportunidade de provar um kaiseki(refeição tradicional) com pratos que destacavam os sabores da estação, desde abóbora kabocha até raízes de lótus.

Os onsen tamago (ovos cozidos em fontes termais) que provei em Hakone e as yaki-imo (batatas-doces assadas) em Kawaguchi-ko foram experiências simples, mas incrivelmente memoráveis. No Japão, a comida não é apenas sobre o sabor, mas sobre se conectar ao momento, à estação e ao lugar.

Minha conexão com o outono japonês

Para mim, o outono no Japão é mais do que as paisagens deslumbrantes – é uma estação que se manifesta nos sabores quentes e reconfortantes da gastronomia. O que me fascina é como a culinária dessa época não apenas aquece o corpo, mas também traz um senso profundo de conexão com o momento e o lugar.

Os pescados dessa estação são um espetáculo à parte. A gordura natural de peixes como o sanma(saury) e o saba (cavala) atinge seu auge no outono, e nada se compara ao sabor de um peixe grelhado sobre carvão, servido com um simples toque de shoyu e um pouco de rabanete ralado. A simplicidade é o que realça a perfeição desses ingredientes.

Além disso, os nabemonos, ou preparos quentes em caldos, são indispensáveis nessa época. Não me esqueço das noites frias em Hakone, quando sentei em frente a um nabe borbulhante, com tofu, vegetais frescos, cogumelos sazonais e fatias finas de carne mergulhadas em um caldo leve e aromático. Esses pratos não são apenas refeições; são momentos de comunhão e conforto.

Outro preparo que carrego comigo é o ochazuke. É algo que muitos poderiam considerar simples demais – arroz coberto com chá verde quente ou caldo dashi, finalizado com flocos de peixe, umeboshi ou nori –, mas essa simplicidade é justamente o que o torna tão especial. Para mim, ochazuke é mais do que comida; é um símbolo de aconchego, uma lembrança da essência do Japão.

E como esquecer os nimonos, com seus sabores profundos e texturas delicadas? Penso em pratos como um peixe cozido lentamente em um molho de saquê, shoyu e gengibre, acompanhado de vegetais da estação. É o tipo de refeição que parece encapsular o espírito do outono: rico, harmonioso e repleto de cuidado.

Em Kawaguchi-ko, uma das minhas experiências mais memoráveis foi provar o houtou udon. Essa versão regional do udon, com macarrão espesso e um caldo à base de miso, é acompanhada por abóbora kabocha e outros vegetais frescos da estação. Com o Monte Fuji ao fundo e o ar fresco do outono, aquela tigela de houtou udon foi muito mais do que uma refeição – foi um momento de profunda conexão com a estação e o lugar.

O oden, por sua vez, é quase como uma celebração do calor em contraste com o ar fresco do outono. Pedaços de daikon, ovos, tofu e outros ingredientes mergulhados em um caldo quente e suave transformam a refeição em algo mágico. É uma comida de rua que transcende o simples; é uma experiência que aquece por dentro e por fora.

E, claro, os pratos de macarrão quente, como ramen, udon e soba, são fundamentais. Cada tigela traz não só um caldo cheio de camadas de sabor, mas também uma sensação de pausa. Uma das minhas lembranças favoritas é de um soba quente com cogumelos frescos, comido em Nagano, rodeado por montanhas cobertas de folhas vermelhas e douradas. Foi um momento em que tudo parecia se alinhar – o clima, o prato e a estação.

O que o outono japonês me ensinou

O outono no Japão me ensinou a valorizar o presente, não apenas pelas paisagens e sabores, mas também pela filosofia que permeia tudo o que é efêmero. Essa estação me mostrou que o simples pode ser extraordinário, e que o momento em que você saboreia algo é tão importante quanto o prato em si.

Essas lições influenciam tudo o que faço hoje. No Omotebako e no restaurante, tento trazer essa essência de sazonalidade e simplicidade em cada prato que criamos. É por isso que celebramos ingredientes frescos e técnicas que valorizam os sabores naturais, sem sobrecarregá-los. O que servimos não é apenas comida; é uma tentativa de capturar e compartilhar momentos únicos, como os que vivi no Japão.

O outono não é apenas uma estação; é um convite a desacelerar, refletir e se conectar com o que realmente importa. Para mim, ele continua a ser uma fonte inesgotável de inspiração – em cada prato, em cada memória e em cada história que compartilho.